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Onde às vezes o punk é de aldeia.
Na Galiza as coisas acontecem ao seu jeito; seria absurdo que aconteceram de qualquer outra
maneira. Parece que o rock pede sempre épica urbana…pois contra essa pretensa norma, surge com
frequência no nosso país a exceção. De facto, já não o lembramos, mas há trinta anos éramos ainda
um país predominantemente rural. Eu lembro quando este era um país jovem graças à minha
geração. E quando cidades como Corunha, Vigo ou Compostela se inundavam durante as noites de
sábado ou sexta feira de jovens que moravam nos núcleos rurais dos concelhos limítrofes.
Com frequência também estes jovens tinham bandas de heavy metal, punk, rock…às vezes
organizavam festivais…e rebelavam-se assim contra uma contorna que não lhes reservava lugar
nenhum na melodia lânguida dessa postal eterna de um rural que nunca rompe a sua continuidade
nas estruturas e nas cadências sociais e históricas.

Felizmente, para o ano 1996 o celtic punk era uma realidade o suficientemente expandida e
consolidada a nível global como para que um grupo de jovens de Arins, a poucos kilômetros da
capital da Galiza, considerasse que essa podia ser a via para canalizar a sua criatividade musical. E
é assim como, seguindo a senda de The Pogues, Dropkick Murphys ou The Real McKenzies, no ano
antes mencionado, os Ruxe Ruxe começaram trajeto quem sabe até qual estação, com a gaita como
instrumento indiscutível e incorporando retalhos de punk, ska e rock and roll. As melodias
tradicionais comadreiam com a herança de The Clash, Ramones, Specials ou Social Distortion.
Com 16 trabalhos discográficos ao lombo (entre Lps e EPs) e com vários câmbios de formação,
botando mão de colaborações de artistas tão diferentes como Xosé Antón Bocixa, Xabier Díaz,
Alonso Caxade ou Julián Hernández, estão a tiro de pedra de se converter num ícone
intergeracional da música em galego, dando-nos em 2 anos um bom feixe de hinos com temática
política e social alternados com uma atitude de culto à festa que não pode faltar numa banda que
abraça o punk desde o finisterrae celtibérico.

Eles são Ruxe Ruxe e sempre os seguirá esse personagem ao que um dia deram vida numa das suas
letras (Carmela sempre quere mais… festa! Leva unha A de Anarquia e unha chapa dos Clash…) ela
dançará entre o público e contagiará-nos do espírotoda festa circular e comunitária cristalizado
naquele pogo no campo da festa ou no polidesportivo. E sonharemos que a história nos dá mais uma
oportunidade em forma de canção.

RAMIRO VIDAL ALVARINHO.

https://www.facebook.com/ramiro.vidalalvarinho